Catolicismo

A Transubstanciação e a real presença do corpo de Cristo

Tradução e adaptação David Brito.

Transubstanciação

é o ensino que, durante a missa, na consagração dos elementos da Ceia do Senhor (comunhão), os elementos da Eucaristia, pão e vinho, são transformados no corpo e sangue de Jesus e que eles não são mais pão e vinho, mas apenas retêm a aparência do pão e do vinho.

A “Presença Real” é o termo que se refere à presença real de Cristo nos elementos do pão e do vinho que foram transubstanciados.

Paragrafo 1376 do Catecismo da Igreja Católica (CIC) declara;

O Concílio de Trento resume a fé católica ao declarar “Por ter Cristo, nosso Redentor, dito que aquilo que oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente seu Corpo, sempre se teve na Igreja esta convicção, que O santo Concílio declara novamente: pela consagração do pão e do vinho opera-se a mudança de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue; esta mudança, a Igreja católica denominou-a com acerto e exatidão transubstanciação” (CIC, 1376).

Porque eles são a presença do próprio Cristo, os católicos adoram os elementos.

A Missa contém uma série de rituais que antecederam a Ceia do Senhor, que também contém uma reencenação do sacrifício de Cristo. Além disso, a transubstanciação afirma que as substâncias dos elementos são milagrosamente alteradas mesmo que sua aparência não o seja. Em outras palavras, o pão e o vinho numa analise cientifica se parecerão como simples pão e vinho, mas a verdadeira substância é o Sangue e o corpo místico de Cristo. Sinônimo da transubstanciação é a doutrina da presença real. Onde transubstanciação é o processo de mudança, a presença real é o resultado dessa mudança. Em outras palavras, a doutrina da presença real afirma que o pão e o vinho contêm a presença real de Cristo em forma corpórea, como resultado do processo de transubstanciação. O catolicismo Romano afirma que a encarnação do próprio Cristo, onde Jesus foi um homem, mas continha uma natureza divina invisível – é análoga à doutrina da presença real.

Alguns dos versos utilizados para fundamentar este ensinamento são os seguintes:

Mt. 26:28, “Pois isto é o meu sangue da aliança, derramado em benefício de muitos, para remissão de pecados.”

  • João 6:52-53, “Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer? Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.”
  • 1 Co. 11:27, “Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor.”

A partir dos versículos acima, podemos concluir  que na Ceia os elementos realmente mudam e se transformam no corpo e no sangue místico de Jesus?

Vamos olhar com mais atenção;

Primeiro: não há nenhuma indicação de que as palavras eram para serem entendidas no sentido literal.

Em nenhum lugar na Bíblia encontramos este ensinamento. Vemos Escrituras se referem aos elementos como o corpo e o sangue, mas também vemos Jesus claramente afirmando que as palavras que Ele estava falando eram palavras espirituais, quando se fala de comer sua carne e beber seu sangue: “O espírito é o que vivifica a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (João 6:63). Ele não disse que eram palavras literais, ou seja, ele não disse que o pão e o vinho eram literalmente seu corpo e seu sangue.

Mas, um católico pode argumentar e dizer que Jesus realmente disse: “Este é o meu sangue” e “Este é o meu corpo” Sim, Ele disse, Mas Jesus frequentemente falava em termos espirituais: “Eu sou o pão da vida “(João 6:48),” Eu sou a porta “(João 10: 7, 9), “Eu sou a ressurreição e a vida “(João 11:25),”Eu sou a videira verdadeira”(João 15: 1) etc. no contexto de João 6, Jesus está dizendo a Seus discípulos que eles devem comer Seu corpo e sangue (João 6:53) Ele diz claramente que Ele estava falando em termos espirituais “As palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida “(João 6:63).

Segundo, os elementos da comunhão continuaram sendo referidos como pão e vinho.

Após a instituição da ceia, ambos os elementos ainda eram chamados de pão e vinho.

“E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lhe, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai.” (Mt. 26:26-29).

Depois de Jesus dizer, “Este é o meu sangue,” (Mt. 26:28), Ele disse, “E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai ” (Mt. 26:29). Por que Jesus fala figuradamente de Seu sangue como “o fruto da videira” se era literalmente Seu sangue? Ele o chamou de vinho.

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; 24 e, tendo dado graças, partiu-o e disse: “Este é o meu corpo, que é partido por vós, Fazei isto em memória de mim” 25 Do mesmo modo Ele tomou o cálice também, depois da ceia, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” 26 Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha. 27 Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice,” (1 Co. 11:23-28).

Se os elementos foram alterados e foram realmente transformados no corpo e no sangue, então por que Paulo se referiu ao elemento do pão, como o pão e não o corpo literal de Cristo?

Terceiro: Não há nenhuma indicação de que os discípulos pensassem que o pão e o vinho haviam sido alterados.

Não há nenhuma indicação nos relatos bíblicos da Última Ceia que os discípulos pensaram que o pão e o vinho haviam sido transformados no corpo e sangue de Cristo. Será que devemos acreditar que os discípulos que estavam sentados ali com Jesus realmente pensavam que o que Jesus estava segurando em suas mãos era o Seu corpo e sangue literal? Não há nenhuma indicação de que eles acreditavam nisso.

Quarto: Não há nenhuma indicação de que os discípulos adorassem os elementos.

Nós não vemos nenhuma indicação de que os discípulos adoraram os elementos. A adoração da Eucaristia é praticado durante a missa. O catolicismo diz: “Além disso, a Igreja Católica se manteve firme a esta crença na presença do Corpo e Sangue de Cristo na Eucaristia, não só na sua doutrina, mas em sua vida como bem desde que ela tem em todos os momentos pago este grande Sacramento à adoração conhecida como “latria”, que pode ser dada apenas a Deus.”1 Onde está a adoração do sacramento dado pelos discípulos em qualquer lugar do Novo Testamento? Não existe em parte alguma.

Quinto: A Ceia foi instituída antes da crucificação de Cristo.

A ceia tem a intenção de ser uma reencenação da crucificação de Cristo. Portanto, de acordo com a teologia católica Romana, o pão e o vinho se transformam no corpo partido e no sangue e de alguma forma se transformam, no corpo crucificado de Cristo. Mas como pode ser assim se Jesus instituiu a ceia antes da sua crucificação? Devemos então concluir que na Última Ceia quando todos estavam na mesa e quando Jesus partiu o pão, ele realmente se tornou Seu corpo sacrificial, embora o sacrifício ainda não tivesse acontecido? Da mesma forma que devemos concluir que, quando Jesus deu o vinho, que se tornou seu sangue sacrificial, embora o sacrifício ainda não tivesse acontecido? Isso não teria o menor sentido.

Sexto: A visão Católica Romana é uma violação da Lei levítica.

A interpretação católica romana da Eucaristia exige que o participante coma carne humana e beba sangue humano. Lembre-se, o catolicismo romano ensina que o pão e o vinho se tornam o corpo e sangue de Cristo. Essencialmente, isso equivale ao canibalismo. O que diz a Escritura a respeito disso?

“Porquanto a vida de toda a carne é o seu sangue; por isso tenho dito aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma carne, porque a vida de toda a carne é o seu sangue; qualquer que o comer será extirpado,” (Lv. 17:14).

Repare que as escrituras dizem que não se deveria comer o sangue de nenhuma carne. Certamente nos parece que a visão católica romana está em contradição com a Escritura do Antigo Testamento, uma vez que alegam beber do sangue Cristo. Pois para a ICAR (Igreja Católica Romana) eles realmente estão bebendo do sangue de Cristo.

Alguns católicos romanos respondem por dizer que Jesus havia instituído a nova e eterna aliança na qual o corpo sacrificado e o sangue de Cristo era uma nova realidade. Portanto, porque era uma nova aliança, ele também era o corpo sacrificado e o sangue. Mas isso não funciona, porque a nova aliança só seria instituída depois da morte vicária de Cristo conforme nos mostram as escrituras;

E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.
 Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador” (Hb. 9:15-16).

Portanto, podemos concluir que a lei levítica ainda estava em vigor porque a nova aliança ainda não tinha sido estabelecida. Assim, a posição católica romana coloca Jesus em posição de violar a lei do Antigo Testamento por fazer os discípulos beber o sangue, se fosse sangue literal.

Ainda, outra resposta é Marcos 7:19 que diz, “Porque não entra no seu coração, mas no ventre, e é lançado fora, ficando puras todas as comidas?  (Assim Ele declarou puro todos os alimentos) O problema com essa resposta é que  ela coloca as escrituras contra as escrituras além de não responder a questão de  Levíticos 17:14 e os comentários particularmente pertinentes a esta questão do Concilio de Jerusalém em At 15:19-20 também proibindo comer sangue. Portanto, parece que Jesus declarava que todos os animais foram limpos no sentido de que eles não contaminam uma pessoa. Mais uma vez, no Concílio de Jerusalém em Atos 15, Tiago o apóstolo dá instruções e diz: ” Por isso julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue,” (At 15:19-20). Alguns argumentam que esta passagem se refere somente ao sangue animal. Mas, se é assim, então “puro todos os alimentos” (cf. Mc 7:19) teria que incluir sangue animal. Mas, a luz da instrução dada isso não faz sentido pois a ordem ainda é abster-se de sangue.

Sétimo: é uma violação da encarnação

A doutrina bíblica da encarnação afirma que o Verbo que era Deus e estava com Deus (João 1: 1) se fez carne e habitou entre nós (João 1:14). Este “se fez carne” envolve o que é conhecido como a União hipostática. Este é o ensinamento de que na pessoa de Cristo tem duas naturezas: divina e humana. Isto é, Jesus é Deus e homem ao mesmo tempo, e Ele será para sempre Deus e homem.

Além disso, por definição, para que Jesus seja ser humano, Ele deve estar presente em um lugar. Essa é a natureza do ser humano. Um humano não tem a capacidade de ser onipresente. Ele só pode estar em um lugar de cada vez. Dizer que Jesus em Sua forma física está em mais de um lugar ao mesmo tempo é negar a encarnação. Ou seja, nega que Jesus é completamente e totalmente um homem uma vez que um homem só pode ser e estar em um lugar por vez. Portanto, dizer que o pão e o vinho se tornam o corpo e o sangue de Cristo é violar a doutrina da encarnação, afirmando que Cristo está fisicamente presente em todo o planeta quando a missa é celebrada. Este é um problema sério e uma grave negação da verdadeira e absoluta encarnação do Verbo de Deus como um homem.

Mas, Jesus não disse em Mateus. 28:18-20 que Ele estaria com os discípulos sempre, até os confins da terra? Não é esta a declaração de que Jesus vai estar fisicamente presente em todos os lugares? Não, isso não é o que  Ele afirmou.

A resposta é encontrada no ensino do Communicatio idiomatum. Este é o ensinamento de que os atributos de ambas as naturezas, é atribuída à pessoa única de Cristo. Isso não significa, porém, que qualquer coisa especial da natureza divina foi comunicada à natureza humana. Da mesma forma, isso não significa que qualquer coisa especial da natureza humana foi comunicada à natureza divina. Isso significa que os atributos da natureza divina são reivindicados pela pessoa de Cristo. Portanto, Jesus é onipresente, não em Sua natureza humana, mas em Sua natureza divina.

Para tornar isto mais claro, vamos olhar alguns versos que tratam do Communicatio idiomatum :

  • João 17:5, “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.”
  • João 3:13,” Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.”

Por favor observe que nestes dois versos, Jesus reivindica a glória que Ele tinha com o Pai antes da fundação do mundo. Ele também afirma ter descido do céu, mas como estas poderiam ser verdade, pois ele é um homem? A resposta é que os atributos da natureza divina são reivindicados pela pessoa de Cristo. Portanto, a pessoa de Cristo pode afirmar ter glória com o Pai e poderia reivindicar descer do céu. Mas sabemos que o homem Jesus, na carne, não existia até sua concepção. Além disso, isso significa que as duas naturezas de Cristo são distintas, mas elas estão em União na pessoa de Cristo (união hipostática). Significa ainda que os atributos do divino e os atributos do ser humano não são transferidos de um para o outro – o divino não está apenas em um lugar e o ser humano não se torna infinito. Se este fosse o caso, então a natureza do divino e a natureza do ser humano seria violada. Portanto, podemos ver que para Jesus ser um homem, Ele deve manter os atributos da humanidade. Isto significa que Ele somente poderia estar em um lugar de cada vez, e que ele não pode ser fisicamente onipresente. Se Ele fosse, por definição, Ele não seria um homem. Mas a posição Católica Romana é que o pão e o vinho se tornam o corpo e sangue de Cristo, e isso viola a doutrina da encarnação. Portanto, a transubstanciação não pode ser o ensino correto das Escrituras.

Oitavo: A ceia não é o sacrifício do Senhor.

A bíblia nos diz:

“E por essa determinação, fomos santificados por meio da oferta do corpo de Jesus Cristo, feita de uma vez por todas.

Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, para exercer seus deveres religiosos, que nunca podem remover os pecados. Jesus, no entanto, havendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus, aguardando, daí em diante, até que seus inimigos sejam submetidos por estrado de seus pés. Porquanto, com uma única oferta, aperfeiçoou por toda a eternidade todos quantos estão sendo santificados” (Hb. 10:10-14).

Na missa Católica, há o sacrifício de Cristo. Em outras palavras, nas cerimônias, acontece reconstituição e um sacrifício real de Cristo toda a missa. Isto é uma contradição óbvia com as Escrituras que nos ensinam que Cristo morreu uma vez por todas e que por uma única oferta, aperfeiçoou para sempre os que são santificados. A Palavra de Deus não ensina que o sacrifício de Cristo deve ser repetido de forma a perdoar os nossos pecados ou de alguma forma ajudar-nos a manter a nossa salvação pela infusão da graça. O fato de que Cristo morreu uma vez e seu sacrifício ocorreu uma única vez é a prova de que o mesmo é suficiente para purificar-nos de nossos pecados. Nós recebemos o sacrifício de Cristo pela fé, e não por uma cerimônia.

Conclusão

Deveria ser óbvio para qualquer um que crê na Palavra de Deus que a doutrina católica romana da transubstanciação não é bíblica. Pelas razões acima enumeradas, nós pedimos que os católicos romanos reconheçam que Jesus Cristo morreu uma vez por todas e que não há necessidade de participar de um ritual onde Seu re-sacrifício é praticado.

Finalmente, porque o sacrifício de Cristo foi uma vez por todas, ele é suficiente para nos salvar, e nós não precisamos manter nossa salvação por nossos esforços ou por nossa participação na ceia do Senhor. Não é um meio de graça que assegura a nossa salvação ou infunde em nós a graça necessária que, em seguida, permite-nos manter a nossa salvação por nossas obras. Em vez disso, somos declarados justos pela fé.

  • “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm. 3:24).
  • “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm. 3:28).
  • “Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça,” (Rm. 4:3).
  • “Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé,” (Rm. 4:13).
  •  “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo,”(Rm. 5:1).
  • “A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo,” (Rm. 10:9).

 

1.http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_03091965_mysterium_en.html.

Matt Slick

Matt Slick é o presidente e fundador do Christian Apologetics and Research Ministry. Formado em Ciências sociais pelo Concordia University, Irvine, CA, em 1988. Bacharel em ciências da religião e mestre em apologética pelo Westminster Theological Seminary in Escondido, Califórnia